quarta-feira, junho 05, 2013

DEUTSCHE SPRACHE

É DIFÍCIL ESTUDAR ALEMÃO ?! 
       

                Países na Europa onde o alemão é língua oficial, em preto, 2a. língua ou de   minorias.
                              
  Por outro lado, quando se cresce ouvindo e falando com os pais não há como ter ideia da dificuldade com o idioma até o momento em que se começa a escrevê-lo...  Segundo  o romancista americano Jonathan Franzen, que estudou alemão na Pensilvânia, em Munique e Berlim, a construção da língua alemã lembra as peças do brinquedo de montar Lego:  “Das formas flexionadas dos verbos pode-se chegar aos seus infinitivos,  ignorar as pequenas palavras ininteligíveis ou compreendê-las através do contexto e podem-se decompor as grande sem seus elementos constitutivo”.

Neste sentido, a formação de um conceito a partir da junção de duas ou mais palavras como Weltanschauung – concepção de mundo, facilita a compreensão das mesmas  e até a criação de novas, já que a língua é viva e passa por inovações continuadas. A riqueza léxica deve-se à presença de palavras estrangeiras, principalmente latinas mas também pelos anglicismos decorrentes do uso comercial do  inglês.  
Os idiomas  eslavos, germânicos e fino-húngaros foram elaborados  partir gramática  das antigas línguas grega e romana e suas declinações. Já as neolatinas perderam esta lógica o que dificulta em muito o aprendizado das mais complexas, como francês e português.     
 Após a  extinção dos Impérios Centrais - Alemanha, Áustria-Hungria e Otomano, em 1919, havia  intenso intercâmbio cultural e científico entre escandinavos, húngaros, baltos e eslavos com São Petersburgo,  Budapeste, Viena, Praga e Berlim enquanto Varsóvia e Bucareste dialogavam com Paris. Os intelectuais da cidade polonesa e a da capital romena dialogavam com a França, a primeira pela proteção que recebera de Napoleão, a segunda, por identificar-se coma cultura latina, contra a eslava. 
Mas a elite cultural das nações tcheca, eslovaca, croata, eslovenos, tirolesa do Império Austro-Húngaro  –, usava o alemão como língua franca.  Então, a Europa setentrional  era integrada culturalmente até ser dividida pela Cortina de Ferro. A partir de então, a Europa do leste foi russificada enquanto a ocidental se integrou aos  países mediterrânicos. Atualmente,  a União Européia congrega povos com 23 línguas oficiais  escritas por três grafias diferentes – latina, grega e cirílica!
  Mesmo após o fim dos impérios alemão e austro-húngaro,  o alemão era a língua oficial de oitenta milhões de habitantes de Alemanha, Suíça e Áustria e de Lichtenstein.  Mas também era o idioma de milhões de  germânicos em países vizinhos – Países Baixos, Escandinávia, Polônia, das então  Tcheco-eslováquia e Iugoslávia. Também era falada por minorias alemãs emigradas para o extinto império russo e nas comunidades alemãs formadas nas Américas.       
  Até a imposição do niilismo cultural pelo nazismo na cultura alemã,  Deutsch  teve sua importância como língua cultural das elites intelectuais da Europa Central e Oriental, recorrente entre cientistas sociais e naturais, além dos teólogos protestantes.   Nos países latinos, o francês era usado pela diplomacia e o inglês pelos negociantes devido ao predomínio  britânico na economia mundial.  Já o russo foi e continua sendo o idioma oficial do extinto império eurasiano embora a língua materna de Marx – alemão, também usada por Lênin na fundação do Komminter – em alemão Kommunistische Internationale (1919-1943).
 Como o latim era ensinado em educandários católicos e nas escolas luteranas alemãs, as crianças aprendiam a grafia latina, que mais tarde seria usada por naturalistas, cientistas e economistas - nesse caso, devido ao poder britânico e do sistema capitalista. Esta grafia também era a dos anúncios de jornais e de revistas para  divulgar produtos inclusive aos estrangeiros que estivessem na  Alemanha.  Por outro lado, a grafia alemã – aqui chamada de gótica - era a do governo e do cotidiano encontrada em  jornais e periódicos,  escolas primárias, na literatura popular e erudita com alemães alfabetizados em duas grafias, alemã e latina. 
  A autora se perguntava quando foi que os alemães pararam de imprimir seus livros nessa grafia já que lera obras infantis em gótico e descobriu que, ...  de início, Hitler a considerava  símbolo da cultura germânica, enquanto a grafia  latina representava o elemento estrangeiro, de fora dessa cultura. Entretanto, no momento em que o 3º. Reich se expandiu em duas frentes, a ocidental a oriental, Hitler percebeu que, apesar de muitos até falarem alemão, a impressão dos decretos teriam de ser publicadas em grafia´p latina para facilitar a leitura pelas nações dominadas. 
 Então,  numa canetada, o chanceler decidiu que a grafia alemã era obra dos de gráficos judeus no início da imprensa e que deveria ser banida.  Em plena guerra, de um dia para o outro, decretos, jornais, livros didáticos deveriam ser impressos em grafia latina... Os  tipos móveis góticos de gráficas e de máquinas de escrever foram parar em fundições para  serem refeitas para atender as exigências dos novos caracteres. Afinal, a intenção do Reich era se impor às nações ocupadas – latinas,  escandinavas, como a eslavos católicos e ortodoxos,  inclusive aos aliados croatas, húngaros e romenos.
 Hoje, a escrita alemã ou “gótica” confere tom peculiar, doméstico e de aconchego a letreiros de estalagens, pousadas, tavernas e, claro, às marcas de cerveja e suas bolachas de papelão, além de vários outros produtos típicos!  Ela também pode ser vista no título de periódicos locais ou conservadores, e até nas manchetes de jornais.   Só alguns   idosos lêem a escrita cursiva alemã ou fractal, o que veta o acesso a mil anos de memória presente em toneladas de documentos, dos oficiais à correspondência privada.  Tendo em vista as especificidades regionais dos manuscritos e as alterações sofridas pela grafia ao longo dos séculos (só padronizada em fins do século XIX), é preciso recorrer a filólogos especialistas para ler estas fontes históricas.
 Os dialetos locais denotam familiaridade entre as pessoas de determinada comunidade. Assim, os dialetos oriundos do baixo alemão – o Plattdeutsch - lembram  pouco o holandês,  enquanto o bávaro remete ao sotaque austríaco.   Enquanto os suábios falam de modo calmo e suave, os habitantes de Hamburgo e de Schleswig-Holstein  pronunciam o “S” sibilado, e não chiado, comum entre a maioria dos alemães. Na Alemanha comunista o   russo  era a língua estrangeira obrigatória, enquanto na Ocidental era  e ainda é o inglês.  Após a reunificação, o fato de os alemães orientais saberem russo, contribuiu para se integrarem com os países eslavos como Polônia e Eslovênia. 



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